terça-feira, 17 de setembro de 2024

Um sussurro na alma: o silêncio de Deus



O silêncio é frequentemente o “lugar” em que Deus nos espera: para que consigamos escutá-lO, em vez de escutar o ruído de nossa própria voz.
O livro do Êxodo conta como Deus apareceu a Moisés no Sinai no resplendor de sua glória: a montanha inteira se sacudia violentamente, Moisés falava e Deus lhe respondia entre trovões e raios (Ex 19,16-22). Todo o povo escutava impressionado o poder e a majestade de Deus.
Mesmo que haja outras teofanias semelhantes que marcam a história de Israel, na maior parte das vezes, Deus se manifestava de outro modo a seu Povo: não no resplendor da luz, mas no silêncio, na obscuridade.
Alguns séculos depois de Moisés, o profeta Elias, fugindo da perseguição de Jezabel, empreende mais uma vez o caminho até o monte santo, impulsionado por Deus. Escondido em uma caverna, o profeta vê os mesmos sinais da teofania do Êxodo: o terremoto, o furacão, o fogo. Mas Deus não estava ali. Depois do fogo, conta o escritor sagrado, houve “um ruído como o de uma brisa suave”. Elias cobriu o rosto com o manto e saiu ao encontro de Deus. E foi então que Deus lhe falou (cfr. 1 Rs 19,9-18). O texto hebreu diz literalmente que Elias ouviu “o ruído ou a voz de um silêncio (demama) suave”.
A DIFICULDADE PARA CAPTAR A PROXIMIDADE DE DEUS É UMA EXPERIÊNCIA COMUM A FIÉIS E NÃO FIÉIS, MESMO QUE ADQUIRA FORMAS DIVERSAS
A versão grega dos Setenta e a Vulgata traduziram “uma brisa suave”, provavelmente para evitar a aparente contradição entre ruído ou voz, por um lado, e silêncio, por outro. Mas o que significa a palavra demama é precisamente o silêncio. Com este paradoxo o autor sagrado sugere, pois, que o silêncio não está no vazio, senão cheio da presença divina. “O silêncio guarda o mistério”, o mistério de Deus. E a Escritura nos convida a entrar neste silêncio se queremos encontrá-l’O.
Um débil sussurro
Entretanto, este modo que Deus tem de falar de se torna difícil para nós. Os salmos o manifestam com eloquência: “Ó Deus, não fiques silencioso, não fiques calado e indiferente, ó Deus!” (Sl 83,2). “Por que escondes teu rosto?” (Sl 44,25). “Por que os povos deveriam dizer: ‘Onde está o Deus deles?’” (Sl 115,2). Pelo texto sagrado, o próprio Deus põe essas perguntas em nossos lábios e em nosso coração: quer que as perguntemos a Ele, que as meditemos na forja da oração. São perguntas importantes. Por um lado, porque se referem diretamente ao modo em que Ele se revela habitualmente, à sua lógica: nos ajudam a entender como buscar o seu Rosto, como escutar a sua voz. Por outro, porque mostram que a dificuldade para captar a proximidade de Deus, especialmente nas situações difíceis da vida, é uma experiência comum a fiéis e não fiéis, mesmo que adquira formas diversas em uns e outros. A fé e a vida da graça não tornam Deus evidente; a pessoa de fé também pode experimentar a aparente ausência de Deus.
“AQUELE QUE POSSUI VERDADEIRAMENTE A PALAVRA DE JESUS PODE ESCUTAR TAMBÉM SEU SILÊNCIO” (SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA)
Por que Deus se cala? Frequentemente, as Escrituras nos apresentam o seu silêncio, a sua distância, como uma consequência da infidelidade do homem. Assim se explica, por exemplo, no Deuteronômio: “este povo irá prostituir-se com deuses estrangeiros, os deuses da terra na qual vai entrar, e me abandonará, rompendo a aliança que fiz com ele (...). Mas eu continuarei ocultando meu rosto naquele dia, por todo o mal que eles praticaram, seguindo outros deuses.” (Dt 31,16-18) O pecado, a idolatria, é como uma cortina que torna Deus opaco, que impede de vê-l’O; é como um ruído que O torna inaudível. E Deus espera então com paciência, atrás dessa barreira que colocamos entre nós e Ele, à espera de um momento oportuno, para voltar ao nosso encontro. “Não desviarei de ti a minha face, porque sou misericordioso” (Jr 3,12).
Então, o que acontece com frequência, mais do que Deus se calar, é que não lhe deixamos falar, que não o escutamos, porque há muito ruído em nossa vida. “Não existe apenas a surdez física, que exclui em grande medida o homem da vida social.
Existe uma debilidade dos ouvidos em relação a Deus da qual sofremos especialmente neste nosso tempo. Nós, simplesmente, não conseguimos mais ouvi-lo, são demasiadas as frequências diferentes que ocupam os nossos ouvidos. O que se diz acerca dele parece-nos pré-científico, já inadequado ao nosso tempo. Com a debilidade dos ouvidos ou até com a surdez em relação a Deus perde-se naturalmente também a capacidade de falar com Ele ou d'Ele. Mas, desta forma, falta-nos uma percepção decisiva. Os nossos sentidos interiores correm o perigo de se apagarem. Com a falta desta percepção o alcance da nossa relação com a realidade fica limitado de maneira drástica e perigosa. O horizonte da nossa vida se limita de modo preocupante.”
No entanto, às vezes não se trata de que o homem esteja surdo para Deus: antes parece que Ele não escuta, que permanece passivo. O livro de Jó, por exemplo, mostra como as orações do justo nas adversidades também podem ficar, por um tempo, sem obter uma resposta de Deus. “Apenas ouvimos pequeno eco de sua palavra!” (Jó 26,14).
A experiência diária de cada homem também mostra em que medida a necessidade de receber de Deus uma palavra ou ajuda fica às vezes como se estivesse no vácuo. A misericórdia de Deus, da qual tanto falam as Escrituras e a catequese cristã, pode se fazer às vezes difícil de perceber a quem passa por situações dolorosas, marcadas pela doença ou a injustiça, em que mesmo rezando não se parece obter uma resposta. Por que Deus não escuta? Por que, se é um Pai, não vem em minha ajuda, já que pode fazê-lo? “A distância de Deus, a obscuridade e problemática sobre Ele, são hoje mais intensas do que nunca; inclusive nós que nos esforçamos por ser fiéis, temos com frequência a sensação de que a realidade de Deus escapou de nossas mãos. Não nos perguntamos frequentemente se Ele continua submerso no imenso silêncio deste mundo? Não temos às vezes a impressão de que, depois de muito refletir, só nos ficam palavras, enquanto a realidade de Deus se encontra mais distante do que nunca?”.
É a história do próprio Jesus — que está no coração da Revelação, mais do que em qualquer uma de nossas experiências — que nos introduz com maior profundidade no mistério do silêncio de Deus. Não são poupados a Jesus, que é o verdadeiro justo, o servo fiel, o Filho amado, os tormentos da Paixão e da Cruz. Sua oração em Getsêmani recebe como resposta o envio de um anjo para consolá-l’O, mas não a libertação da tortura iminente. Tampouco deixa de assustar que Jesus orou na Cruz com estas palavras do Salmo 22: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Ficas longe apesar do meu grito e das palavras do meu lamento?” (Sl 22,2). O fato de que quem não conheceu o pecado (2 Cor 5,21) tenha experimentado deste modo o sofrimento manifesta como as dores que às vezes marcam de maneira dramática a vida dos homens não podem ser interpretadas como sinais de reprovação por parte de Deus, nem o seu silêncio como ausência e distanciamento.
Conhecemos Deus no seu silêncio
Ao passar junto a um cego de nascença, os apóstolos fazem uma pergunta que expressa um modo frequente de pensar na época: “Quem pecou para que ele nascesse cego, ele ou seus pais?” (Jo 9,1). Mesmo que hoje parecesse estranho ouvir algo assim, na realidade a pergunta não se encontra tão longe como parece de uma mentalidade frequente, pela qual o sofrimento, de qualquer tipo que seja, é visto como uma espécie de destino cego ante o qual só é possível a resignação, uma vez fracassadas as tentativas de eliminá-lo. Jesus corrige os apóstolos: “Nem ele, nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9,3). Deus permanece às vezes em silêncio, aparentemente inativo e indiferente ao nosso destino, porque quer crescer em nossa alma. Só assim se entende, por exemplo, que permitisse o sofrimento de José, na incerteza sobre a maternidade inesperada de Maria (cfr. Mt 1,18-20), podendo ter “programado” as coisas de outra forma. Deus estava preparando José para algo grande. Ele “não perturba nunca a alegria de seus filhos, se não é para lhes preparar outra mais certa e maior”.
DEUS PERMANECE ÀS VEZES EM SILÊNCIO, APARENTEMENTE INATIVO E INDIFERENTE AO NOSSO DESTINO, PORQUE QUER CRESCER EM NOSSA ALMA
Inácio de Antioquia escrevia que “Aquele que possui verdadeiramente a palavra de Jesus pode escutar também seu silêncio”. O silêncio de Deus é frequentemente para o homem o “lugar”, a possibilidade e a premissa para escutar a Deus, em vez de escutar só a si mesmo. Sem a voz silenciosa de Deus na oração, “o eu humano acaba por ser eco da voz de Deus, corre o risco de se reduzir a espelho do eu, de modo que o diálogo interior se torna um monólogo, dando motivos para numerosas justificações”. Pensando bem, se Deus falasse e interviesse continuamente em nossa vida para resolver problemas, não devemos admitir que facilmente nos acostumaríamos à sua presença? Não acabaríamos, como os dois filhos da parábola (cfr. Lc 15,11-32), preferindo nossos benefícios à alegria de viver com Ele?
“O silêncio é capaz de escavar um espaço interior no nosso íntimo, para ali fazer habitar Deus, para que a sua Palavra permaneça em nós, a fim de que o amor por Ele se arraigue na nossa mente e no nosso coração, e anime a nossa vida”. Com a busca, com a oração confiada ante as dificuldades, o homem se liberta da sua autossuficiência; coloca em movimento os seus recursos interiores; vê como se fortalecem as relações de comunhão com os outros. O silêncio de Deus, o fato de não intervir sempre de um modo imediato para resolver as coisas do modo que gostaríamos, desperta o dinamismo da liberdade humana; chama o homem a assumir o controle da sua própria vida ou da dos outros, e de suas necessidades concretas. A fé é por isso “a força, que silenciosamente e sem clamores, muda o mundo e o transforma no Reino de Deus, é a fé e a expressão da fé é a oração (...). Deus não pode mudar as situações sem a nossa conversão, e a nossa verdadeira conversão tem início com o "clamor" da alma, que implora perdão e salvação”.
No ensinamento de Jesus, a oração aparece como diálogo entre o homem como filho e o Pai do Céu, no qual a petição ocupa um lugar muito importante (cfr. Lc 11,5-11; Mt 7,7-11). A criança sabe que o seu Pai sempre o escuta, mas que lhe está assegurado não é tanto uma espécie de saída do sofrimento ou da doença, como o dom do Espírito Santo (Lc 11,13). A resposta com a qual Deus sempre vem em ajuda do homem é o Dom do Espírito-Amor. Podemos saber pouco disso, mas é um presente muito mais precioso e fundamental do que qualquer solução terrena para os problemas. É um presente que deve ser aceito na fé filial e que não elimina a necessidade do esforço humano para enfrentar as dificuldades. Com Deus, os “vales escuros” que às vezes temos que cruzar não se iluminam automaticamente; continuamos caminhando, talvez com medo, mas um medo confiado: “Não temerei mal nenhum, pois comigo estás” (Sl 23,4).
Este modo de atuar de Deus, que desperta a decisão e a confiança do homem, pode ser reconhecido pelo modo que Deus realizou a sua Revelação na história. Podemos pensar na história de Abraão, que deixa seu país e se põe a caminho de uma terra desconhecida, fiando-se da promessa divina, sem saber aonde Deus o leva (cfr. Gn 12,1-4); ou na confiança do Povo de Israel na salvação de Deus, inclusive quando todas as esperanças humanas parecem ter acabado (cfr. Est 4,17a-17kk); ou na fuga serena da Sagrada Família ao Egito (cfr. Mt 2,13-15) quando Deus parece submeter-se aos caprichos de um monarca provinciano… Nesse sentido, pensar que a fé parecia mais simples às testemunhas da vida de Jesus não corresponde à realidade, porque nem sequer a essas testemunhas foi poupada a seriedade da decisão de crer ou não n’Ele, de reconhecer n’Ele a presença e a ação de Deus.
Há numerosas passagens do Novo Testamento nas quais se vê com clareza como esta decisão não era óbvia.
Ontem como hoje, apesar de a Revelação de Deus oferecer sinais autênticos de credibilidade, o véu da inacessibilidade de Deus não fica completamente eliminado; os seus silêncios continuam desafiando o homem. “A existência humana é um caminho de fé e, como tal, progride mais na penumbra do que em plena luz, não sem momentos de obscuridade e até de total escuridão. Enquanto estamos aqui embaixo, o nosso relacionamento com Deus realiza-se mais na escuta do que na visão”. Isso não é só uma expressão do fato de que Deus é sempre maior que nossa inteligência, mas também da lógica de apelação e resposta, de dom e tarefa, com a qual quer conduzir a nossa história: a de todos e a de cada um. Afinal de contas, a forma de se revelar de Deus e a liberdade que temos por ser sua imagem estão em relação mútua. A Revelação de Deus permanece em um “claro-escuro” que permite a liberdade de escolher nos abrirmos a Ele ou permanecer fechados em nossa autossuficiência. Deus é “um rei com coração de carne, como o nosso; que é o autor do universo e de cada uma das criaturas, e que não se impõe com atitudes de domínio, mas mendiga um pouco de amor, mostrando-nos em silêncio as suas mãos chagadas”.
A nuvem do silêncio
Com a sua oração na Cruz — “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46) — Jesus “torna seu este grito ao coração do Pai. Ao orar assim nesta última solidão, junto com toda a humanidade, abre para nós o coração de Deus”.
Com efeito, o salmo com o qual Jesus clama ao Pai abre caminho, por trás das lamentações, a um grande horizonte de esperança (cfr. Sl 22,20-32)[; um horizonte que Ele tem diante do olhar mesmo no meio da sua agonia. “Em tuas mãos encomendo meu espírito” (Lc 23,44), diz ao Pai antes de expirar. Jesus sabe que a entrega da sua vida não cai no vazio, que muda a história para sempre, mesmo que pareça que o mal e a morte são a última palavra. O seu silêncio na Cruz pode mais do que os gritos daqueles que o condenam. “Olhai, eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).
JESUS SABE QUE A ENTREGA DA SUA VIDA NÃO CAI NO VAZIO, QUE MUDA A HISTÓRIA PARA SEMPRE, MESMO QUE PAREÇA QUE O MAL E A MORTE SÃO A ÚLTIMA PALAVRA.
“A fé significa também acreditar n’Ele, acreditar que nos ama verdadeiramente, que está vivo, que é capaz de intervir misteriosamente, que não nos abandona, que tira bem do mal com o seu poder e a sua criatividade infinita. Significa acreditar que Ele caminha vitorioso na história (...), que o Reino de Deus já está presente no mundo, e vai-se desenvolvendo aqui e além de várias maneiras”. Com os seus silêncios, Deus faz crescer a fé e a esperança dos seus: torna-os novos, e faz com eles “novas todas as coisas”. Cabe a cada um e cada uma corresponder ao silêncio suave de Deus com um silêncio atento, um silêncio que escuta, para descobrir “qual seria a nuvem, (...) o estilo do Espírito Santo para cobrir o nosso mistério? Esta nuvem em nossa vida se chama silêncio, aquilo que se estende sobre o mistério da nossa relação com o Senhor, da nossa santidade e dos nossos pecados


Capitulo extraído do livro: OBSESSÃO do Escritor Wagner Teruel
se voce deseja adquirir este livro fisico ou em forma de ebook, acesse nossa loja virtual: https://itsteologia.lojavirtualnuvem.com.br/#

Convicção


Convicção


Você sabe o que é?
Bem vou te falar o oposto
Convicção não é esta religião de auto-ajuda
Convicção não é determinismo
Convicção não é worship
Convicção não é de forma alguma revelação e labaredas de fogo
Convicção meus irmãos
É seguir crendo mesmo diante das adversidades
Convicção meus irmãos
É adorar quando todos só querem se apresentar
Convicção meus irmãos
É saber que mesmo das cinzas Deus devolvera seu Isaque (sua promessa)
Convicção meus irmãos
É ir libertar um povo das mãos de Faraó mesmo estando sob a mesma sentença de escravidão
Convicção meus irmãos
É estar no sofrimento mais árduo e poder dizer
Eu sei que meu Redentor vive
Vc realmente ama a Deus?


Pr. Wagner Teruel



sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Um serviço pastoral, a muito tempo esquecido Visita aos Membros

 


Minha primeira visita pastoral foi a primeira que fiz quando era um jovem pastor.

Meu caso não era único na época e nem o é hoje. Estou certo de que muitos de vocês irão se identificar com a minha experiência. De fato, muitos leitores não reconhecerão que estavam sendo privados de algo que era uma parte essencial da experiência da igreja. Em nossos dias, o trabalho pastoral é absurdamente negligenciado. Muitos pretensos pastores enchem suas vidas de assuntos administrativos ou acadêmicos de forma que eles possuem pouco tempo para as pessoas do rebanho. Outros têm igrejas tão grandes que não conseguem sequer começar a pastorar os membros de suas congregações.  Cada vez mais, esses homens abordam a supervisão congregacional como se fossem o Chefe do Poder Executivo. Mas, mesmo em nossas pequenas igrejas reformadas, o ministro frequentemente negligencia o importante trabalho de pastorear.  Muitos membros de igreja somente recebem visita quando estão doentes (e olhe lá). Não podemos saber a condição de nosso rebanho ou ministrar efetivamente a ele sem fazer cuidadosamente o trabalho de visitação às famílias. Além disso, esse trabalho é necessário para a cimentação da verdade e de seus resultados na vida das pessoas.

Historicamente, a visitação pastoral é parte do trabalho esperado de um pastor de verdade. Nossos pais na fé levaram essa parte do trabalho ministerial muito a sério. Certo pregador por nome de Packer a muitos anos atrás escreveu: Sabendo as maneiras pelas quais o Espírito traz pecadores à fé e à nova vida em Cristo, e pelas quais guia os santos, por um lado, a crescerem à imagem de seu Salvador e, por outro, a aprenderem a serem totalmente dependentes da graça, os Cristãos se tornaram esplêndidos pastores. A profundidade e unção de suas exposições “práticas e experimentais” no púlpito não eram mais marcantes que a habilidade do estudo da aplicação do remédio espiritual para as almas doentes. Por meio da Escritura, eles mapearam o frequente confuso terreno da vida de fé e comunhão com Deus com grande profundidade (veja ‘O Peregrino’ como um dicionário ilustrado), e a agudeza e sabedoria deles em diagnosticar algum mal estar espiritual e em utilizar o remédio bíblico apropriado era excepcional.

Desde meu inicio ministerial há mais de 25 anos atrás sempre aprendi, e hoje ensino que: É dever do ministro não apenas corrigir as pessoas confiadas a seu cuidado em público, mas, também, em particular; especialmente admoestar, exortar, repreender e confortá-las em todas as ocasiões, enquanto seu tempo, sua força e sua segurança pessoal o permitirem. Ele deve admoestá-las em tempo de saúde, para prepará-las para morte. E. para esse propósito, elas frequentemente vão conferir com seus ministros como está o estado de suas almas. E, no tempo de doença, para ouvirem seus conselhos e pedir ajuda, oportuna e periodicamente, antes que suas forças e compreensão falhem com eles.

 Um pastor moderno recentemente falou sobre a visitação pastoral: “Há quatro maneiras em que os seres humanos aprendem: ouvindo, discutindo, assistindo e descobrindo. Alguém pode chamá-las também de audição, conversação, observação e participação. O primeiro é mais direto, da boca para o ouvido, do orador para o ouvinte, e, claro, inclui a pregação. Mas nem sempre é, de forma alguma, o mais efetivo. ‘A maioria das pessoas acha difícil entender conceitos de forma puramente verbal…'” 3. Em um livro mais recente, ele afirmou que a visitação pastoral é uma maneira de o ministro preencher a lacuna entre sua congregação e a segurança das verdades que ela ouviu no púlpito: “E temos de deixar as pessoas falarem conosco. Não há uma maneira mais rápida de preencher o abismo entre o pregador e as pessoas do que encontrá-las em suas casas e em nossas casas. O pregador eficiente é sempre um pastor diligente. Somente se ele achar tempo toda semana para tanto visitar as pessoas como entrevistá-las, ele será capaz de estar em contato com elas enquanto prega”.

O principal texto que exige o cuidado pastoral é Atos 20.28. Paulo, no contexto do seu exemplo de ensinar privativamente de casa em casa, encarregou os presbíteros: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20.28).

A igreja tem interpretado tradicionalmente que esse mandamento inclui a visita familiar. Richard Baxter nos deu a clássica aplicação desse texto em seu trabalho de visitação familiar, O Pastor Reformado. Baxter (1615-1691) foi um pastor por excelência, cujo ministério Deus abençoou grandemente. Ele pastoreou a Igreja de Kidderminster, em 1641-42 e depois, de novo, após a Guerra Civil Inglesa, em 1647-61. Kindderminster era uma cidade com cerca de 800 lares e 2000 pessoas. Por quase todas as partes, as pessoas eram espiritualmente desamparadas. Packer descreve o efeito de seu ministério no meio deles:

“Eles eram um povo ignorante, rude e beberrão quando Baxter chegou, mas isso mudou drasticamente. ‘Quando iniciei meus trabalhos, observei todos aqueles que eram humildes, reformados ou convertidos. Mas com o desenvolver do trabalho, aprouve a Deus converter tanta gente, que eu não conseguia ter tempo para tais observações… famílias e um número considerável de uma só vez… chegavam e cresciam e eu sequer sabia como’. ‘A congregação estava sempre cheia [a igreja comportava 1000], então tivemos de construir cinco galerias… Nos dias do Senhor… você conseguia ouvir centenas de famílias cantando salmos e repetindo os sermões enquanto  passava pelas ruas… quando cheguei lá pela primeira vez, havia apenas uma família por rua que adorava a Deus e o chamava pelo nome, quando fui embora, havia algumas ruas onde não havia sequer uma família que não fazia isso’. ‘Mais tarde, Baxter escreveu: ‘entretanto, estou a cerca de seis anos longe deles e eles têm sido atacados com calúnias vindas do púlpito e difamações, ameaças e prisões, com palavras aliciadoras e raciocínios sedutores, mas eles rapidamente se opuseram e mantiveram sua integridade. Muitos foram para Deus, outros foram removidos, outros estão na prisão, e, a maioria, ainda está em casa. Mas nenhum sobre os quais eu ouço caíram ou abandonaram a retidão (Baxter está descrevendo o que aconteceu durante a Grande Expulsão)’. Quando, em dezembro de 1743, George Whitefield visitou Kidderminster, ele escreveu a um amigo: ‘eu fui grandemente revigorado em encontrar o doce aroma da doutrina, trabalho e disciplina do senhor Braxter, os quais permanecem até hoje’. 

Em meio a outros deveres, duas vezes por semana, Baxter fazia a visitação familiar. Ele também ensinava e encorajava seu povo a vir a ele com seus problemas. E Baxter começou a inspirar outros ministros com a sua visão.

Os membros da Worcentershire Ministerial Association convidaram Baxter a falar a eles sobre catequese paroquial e visitação. Por problema de saúde, ele não pôde falar no dia combinado, então ele expandiu a mensagem e a publicou no livro The Reformed Pastor. Ele usa a palavra “reformado” não para se referir à doutrina, mas ao arrependimento ministerial e renovação. Ele escreveu, “Se Deus ao menos reformasse o ministério e os colocasse em suas obrigações zelosamente e fielmente, as pessoas certamente seriam reformadas”.O tratado é baseado em Atos 28.26. Sua doutrina era: “os pastores ou bispos da igreja de Cristo devem ter grande cuidado consigo mesmos, com todos dos seus rebanhos, em todas as áreas do trabalho pastoral”.

 Na Dedicatória do seu livro, ele expõe os motivos do dever do cuidado pastoral:

  • Que as pessoas devem ser ensinadas sobre os princípios da fé. As questões da grande necessidade de salvação são dúvidas passadas em nosso meio.
  • Que elas devem ser ensinadas da forma mais edificante e vantajosa possível. Espero que concordemos com isso. 
  • Que a conferência pessoal, e o exame, e a instrução possuem muitas vantagens excelentes para o bem deles, isso não é mais motivo de discussão.
  • Que a instrução pessoal nos é recomendada pela Escritura, e pela prática dos servos de Cristo, e aprovada pelos piedosos de todos os tempos, é, até onde eu sei, sem contradição.
  • Não há mais dúvida que devemos exercer esse grandioso dever a todas as pessoas ou a tantas quanto pudermos fazê-lo, para que nosso amor e cuidado por suas almas possam ser estendidos a todos. Se há quinhentas ou mil pessoas ignorantes em sua Igreja ou congregação, então você está fazendo um pobre exercício do seu dever ao conversar de vez em quando com algumas poucas pessoas, deixando as demais sozinhas em sua ignorância, enquanto você podia ajudá-las.
  • Não é com menos certeza que um trabalho tão grandioso como esse deva tomar uma parte considerável do seu tempo. Por último, é igualmente certo que todos os deveres devem ser feitos com ordem, o quanto for possível, e, por isso, devem ter hora marcada.  

Se você não leu o livro, eu o encorajo a fazê-lo. Como mencionei, Baxter separava dois dias por semana, terças e quartas, para realizar esse trabalho. Dessa forma, Baxter visitava por volta de 15 famílias por semana.

Com a abordagem de Baxter, nós aprendemos uma particular quantidade de lições sobre cuidado pastoral.

Primeiro, temos de organizar nossa igreja para esse trabalho. Essa organização consiste tanto em instrução como em divisão da congregação. A congregação precisa ser instruída do benefício desse trabalho. Baxter aponta que nós temos de treinar “as pessoas a se submeterem a esse curso particular de catequese e instrução; se elas não vierem a você ou permitirem você ir a elas, o que de bom elas recebem?”.8 Esse treinamento começa com o ministro agindo de uma maneira com que as pessoas de sua congregação saibam que ele as ama e que faça com que elas o amem. Quando essa afeição mútua for estabelecida, pregue sobre a necessidade e os benefícios da visitação pastoral.

O ministro precisa alistar e treinar os obreiros nesse trabalho. A falha do método de Baxter foi não envolver os obreiros. Ele não se utilizava deles, mas eles também eram líderes do rebanho que deveriam responder a Deus sobre sua administração. Um obreiro bíblico é muito mais do que um tomador de decisões; ele é um Pastor quer seja consagrado, ou não, na nossa Igreja temos a seguinte frase, NO ESPAÇO PENTECOSTAL, CADA CASA É UMA IGREJA E CADA MEMBRO É UM LIDER. Nós precisamos motivá-los e treiná-los para esse trabalho.  Esse treino deve consistir em explicar os deveres e princípios bíblicos de como se deve conduzir uma visita. Ministros devem levar os Obreiros consigo com o fim de eles aprenderem a lidar com uma visita pastoral.

Com respeito a visita em si, tenha em mente que ela é pastoral. O pastor deve visitar as casas da pessoas socialmente, mas a visita pastoral é para inquirir sobre o bem estar espiritual da família. Comece a visita com uma oração e leitura da Escritura. Se houver criança na casa, vá a cada uma delas primeiro e pergunte se elas estão confiando em Cristo e procurando obedecê-lo. Elas leem a Bíblia e oram? Elas estão lutando contra seus pecados particulares? Como elas estão indo na escola? Os pais estão catequizando suas crianças? Quais livros os pais leram recentemente? Eles estão tirando proveito dos sermões? Como eles estão se utilizando dia do Senhor? Quais são suas principais lutas e tentações? Como eles se relacionam com a família (marido e esposa; pais e filhos)? Eles possuem alguma preocupação ou dúvida sobre a igreja? Conclua a visita com uma breve exortação bíblica e com uma oração.

Lembre-se de tomar notas a cada visita. Elas irão ajudá-lo a orar mais especificamente por cada um e refrescarão sua memória na próxima vez que você os visitar.

Uma palavra aos ministros. Nós ouvimos muito, e ainda bem que sim, sobre igrejas comprometidas com os meios de graça. Pois eu digo que se em seu ministério não há espaço para uma sistemática visitação pastoral, então você está negligenciando um importante meio de graça.  Eu desafio você a repensar sua filosofia ministerial. Se você não tem feito regulares visitapastorais, eu encorajo você a se arrepender e a buscar pela graça de Deus para começar imediatamente. Deus alertou em Ezequiel 34.1-10 que ele irá cobrar os pastores que falham em pastorear o rebanho. (cf. Jer. 23.1-2, 1 Pedro 5.1-4). Além disso, treine seus Obreiros a se juntarem a você nesse importante trabalho. Alguns contestam dizendo que a visita aos lares não é aceitável em nossa cultura. A questão que devemos responder é “isso é uma exigência bíblica”? Se sim, então treine a si, a seus Obreiros e a sua congregação.

Se você é membro de uma congregação e não recebe visitapastorais, eu encorajo você a requisitar uma. Que Deus restaure hoje esse ministério perdido em nossas igrejas.

Agradeço minha Oportunidade

 

Wagner Teruel